terça-feira, 15 de maio de 2012

Movimento Hip Hop Organizado do Maranhão “Quilombo Urbano” Contra a Criminalização da Juventude Negra e em Defesa da Liberdade de Expressão, nossa Solidariedade ao rapper Emicida.

A detenção e o indiciamento do rapper Emicida por desacato a autoridade no show que realizava no último domingo, 13 de maio, em Belo Horizonte (MG) é parte do processo de criminalização dos movimentos sociais e da juventude negra. Esse acontecimento demonstra também que o Hip Hop não é só um movimento cultural, mas um movimento politico-cultural de forte conteúdo social. Queiramos ou não, é assim que o Estado burguês e racista enquadra o Hip Hop, como um movimento de ameaça a ordem estabelecida (status quo branco), sobretudo por que o Hip Hop se notabilizou como “a voz dos favelados” e pôs em movimento os sentimentos do setor mais penalizado pelo capitalismo brasileiro, a juventude negra. O argumento de que Emicida teria insultados policiais é insuficiente. Tudo mundo sabe, inclusive a polícia, que qualquer grupo de rap que se preze tem que falar dos 5p’s (Preto, Pobre, Presidiários, Prostituição e Polícia). A questão fundamental foi a ousadia de Emicida em defender publicamente as “ocupações” e os movimentos de luta por moradia, assim como fez em relação ao massacre praticado pelo governo Alckmin (PSDB) contra os moradores de Pinheirinho em São José dos Campos (SP). Antes de cantar a música “Dedo na Ferida” escrita após a desocupação criminosa de Pinheirinho, Emicida prestou solidariedade aos moradores da ocupação Eliana Silva (MG) que também foram brutalmente despejados pela PM, dizendo "Antes de mais nada, somos todos Eliana Silva, certo? Levanta o seu dedo do meio para a polícia que desocupa as famílias mais humildes, levanta o seu dedo do meio para os políticos que não respeitam a população e vem com 'noiz' nessa aqui, ó. Mandando todos eles se fuder, certo, BH? A rua é noiz." Na verdade, o Brasil está vivendo uma guerra nada silenciosa entre a especulação imobiliária e aqueles que de lutam por moradia. Para a realização dos megaeventos (Copa de 2014 e Olímpiadas de 2016) mais de 200 mil famílias estão ameaçadas de serem despejadas. Considerando que os governos e a justiça são braços legais de latifundiários e de especuladores imobiliários, fazer o que Emicida fez não é uma boa pedida, pelo menos na perspectiva desses grupos. O caso “Cacheira” que envolve parlamentares tanto ligados ao governo (PT, PMDB) quanto à oposição burguesa (DEM, PSDB) e construtoras como a Delta e CTR é uma prova cabal de que Emicida meteu o dedo em uma “ferida” de gente grande, “ferida” inflamada pelo “pus” da corrupção e da especulação imobiliária. Por outro lado, esse caso acende o alerta vermelho ao Hip Hop brasileiro de que estamos vivendo algo muito parecido com o que ocorreu entre meados da década de 1990 e o início do novo milênio. Durante esse período, o Estado policial e seu aparato midiático empreenderam uma perseguição nunca vista antes ao Hip Hop. Nele ocorreu a detenção do Racionais MC´s, do rapper Big Richard , de Nil do MRN, das agressões praticadas por policiais contra o grupo Faces do Subúrbio (PE), das perseguições sofridas pelos militantes do movimento Hip Hop Quilombo Urbano (MA), entre outros. Nessa mesma direção, os clipes “Isso aqui é uma guerra” do grupo Facção Central (SP) e “Soldado do Morro” do rapper MV Bill (RJ) foram censurados e seus protagonistas indiciados por incitação a violência. Apesar do processo de cooptação praticado pelo governo de frente popular (Dilma e Lula) contra muitos grupos e organizações de Hip Hop, esse movimento continuou pulsando forte nas veias políticas das periferias brasileiras. Muitos grupos estão surgindo por fora dos grandes esquemas. É uma reação esperada, considerando que as periferias brasileiras estão cada vez mais acuadas, com o aumento da repressão, do consumo do crack, desemprego, violência, falta de moradia etc. Cedo ou tarde o Hip Hop teria que se chocar contra aqueles que tentam cooptá-lo. É neste contexto que se explica a detenção do rapper Emicida Por fim queremos conclamar todas as organizações de Hip Hop e da classe trabalhadora a repudiar esses ataques, que não são ataques isolados ao rapper Emicida, mas um atentado a liberdade de expressão da juventude negra e pobre e ao direito de lutar por moradia. A Prisão do Emicida ocorrida no dia 13 de maio nos deixa a lição de que a verdadeira abolição ainda está por vir, e virá das ruas, e a existência Hip Hop é o atestado vivo desta busca.

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